Riscos para a saúde pública


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(a) Disponibilidade e qualidade

Em todos os países da UE (União Europeia) estão disponíveis preparações farmacêuticas de cetamina, à excepção da Grécia onde a autorização de comercialização foi retirada em 1998. A informação corrente sugere baixos níveis de disponibilidade de cetamina para uso ilícito nos Estados-Membro. Grande parte da cetamina para este uso está sob a forma de comprimidos que apresentam a mesma gravação à superfície que os comprimidos de ecstasy. A cetamina pode também apresentar-se sob a forma de pó e vendida como cocaína ou anfetamina.
Laboratórios forenses identificaram cetamina em doses variáveis juntamente com manitol, cafeína, efedrina ou pseudoefedrina, MDMA, metanfetaminas e anfetaminas. Na Bélgica, 89 kg de cetamina pura em pó foram confiscados em Setembro de 1999 e, posteriormente, 3 kg em Janeiro de 2000. Quatro Estados-Membro (Bélgica, Irlanda, Holanda e o Reino Unido) realizaram apreensões de quantidades significativas de cetamina, apesar destas serem diminutas quando comparadas com as apreensões de drogas sintéticas mais comuns, como as anfetaminas e o MDMA.


(b) Prevalência e padrões de consumo

Há um aparente baixo conhecimento e uso da cetamina na Europa, quando comparada com outras drogas como a cannabis, MDMA, anfetaminas e cocaína. Um estudo realizado na Áustria mostrou que os participantes, que habitualmente consomem MDMA e anfetaminas, consideraram o risco de danos psicológicos associados à cetamina como muito elevado. Em doses baixas, a cetamina por vezes é responsável por efeitos estimulantes, o que se pode dever à adulteração da cetamina com cafeína, ou à coadministração com outras drogas como anfetaminas e/ou cocaína. Há indicação de que a cetamina é considerada uma droga esotérica, consumida por utilizadores frequentes com alguma experiência.
Inquéritos realizados em grupos de consumidores de drogas em ambientes nocturnos mostraram que um número significativo de indivíduos já tinham experimentado cetamina, mas os níveis variam entre as subpopulações e a região geográfica. Um inquérito realizado numa discoteca Londrina em 1997 revelou que cerca de 40% dos 200 participantes já tinham consumido cetamina e iriam fazê-lo novamente nessa noite. Ainda no Reino Unido, um inquérito realizado na região nordeste do país concluiu que 1% dos adolesentes com 13-14 anos e 2% com 15-16 anos já tinham consumido cetamina, sendo que para a cocaína os resultados foram de 2% e 5%, respectivamente. Um inquérito Francês realizado nesse mesmo ano mostrou que 15% dos 900 participantes, frequentadores de festas techno, já tinham consumido cetamina. A via de administração mais popular é a nasal, a cetamina é snifada na forma de pó, ou a intravenosa, onde preparações líquidas de cetamina são injectadas, apesar de haverem também casos nos quais foi fumada, consumida pela via oral, ou mesmo pela via rectal.


(c) Características e comportamento dos consumidores

O consumo de cetamina é mais frequente em indivíduos mais velhos, com elevado grau de escolaridade e utilizadores frequentes de MDMA. É também frequente em discotecas gay e em pequenos grupos de indivíduos em experimentação com drogas, sendo que em alguns grupos restritos, a iniciação ao consumo da cetamina é encarada como um ritual. Os grupos mais vulneráveis ao consumo de cetamina são os que a consomem sem o saberem, tendo-lhes sido vendida em vez de MDMA ou outros estimulantes. São comuns as apreensões de cetamina em falsos comprimidos de ecstasy, o que reflecte a verdadeira dimensão do seu consumo e a necessidade de se obter mais e melhor informação acerca deste assunto.
Desde 1996, foram reportadas 4 mortes na UE nas quais foi detectada laboriatorialmente a presença de cetamina, sendo que 2 desses casos ocorreram em 1996 na Irlanda. Em nenhum destes últimos dois casos a cetamina foi considerada a causa de morte. Os restantes 2 casos ocorreram na França, ambos em indivíduos que consumiam várias drogas. Foram também reportados 17 casos hospitalização associada a intoxicação por cetamina, em França. Há, no entanto, pouca informação sobre casos de emergências hospitalares na Europa.
Um importante factor de risco é a baixa fiabilidade das indicações que são dadas acerca da dose quando esta é vendida nas ruas. Na ausência de aconselhamento, os utilizadores de cetamina pela primeira vez tendem a mimetizar os padrões de consumo adoptados para outras drogas com as quais estão familiarizados. Esta utilização sem informação prévia aumenta o risco de danos físicos e psicológicos. A ocorrência de fenómenos de tolerância gera uma tendência para a administração intravenosa, em detrimento do comum snif, atitude que por si só acarreta uma série de riscos associados à injecção, como infecções.


(d) Contexto do uso

As implicações para os indivíduos que não consomem cetamina são devidas à entrada camuflada deste xenobiótico no mercado do uso recreativo de drogas em comprimidos de ecstasy ou outros estimulantes. Isto significa que um indivíduo que tenciona tomar MDMA, cocaína ou uma anfetamina pode acabar por consumir cetamina inadvertidamente, sem qualquer aviso, conhecimento ou assistência. Comparada com outros estimulantes, os rápidos efeitos físicos decorrentes do cetamina têm graves implicações na capacidade de condução.
 

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